sábado, 23 de julho de 2011

Um conto ateu

Transcrevo o conto de Luis Oliveira, dono do blog Apenas um Ateu:


Um Ateu Na Missa

A tortura dominical de Paulo começava cedo. Sua mãe o acordava tão logo ela própria se levantava, pois sabia que acordar o filho não era uma tarefa fácil e não saia do lado de sua cama até que ele estivesse totalmente de pé, pois também sabia que se desse os cinco minutinhos que ele sempre suplicava, a batalha se tornaria ainda pior. Sabendo disso, Paulo nunca oferecia muita resistência, pedia mais um tempinho por pura força do hábito, mas se contentava em praguejar mentalmente enquanto tomava banho, café da manhã, se vestia e saia de casa acompanhando sua mãe para a missa na igreja do bairro.

Ela não sabia que ele era ateu, simplesmente achava que como todo adolescente ele tinha preguiça de acordar cedo. Ele nunca lhe revelou esse fato por saber o quanto isso a decepcionaria e, pior ainda, por saber que ela desempenharia uma verdadeira cruzada para convertê-lo. Conhecia a mãe e sabia o quanto era devota e não ia tolerar a possibilidade de seu próprio filho seguisse aquilo que ela acreditava ser o caminho para a danação eterna. Assim, todo domingo ele a acompanhava silenciosa e obedientemente.

Enquanto a costa era aos poucos destroçada pelo banco de madeira, Paulo sempre observava o ambiente. Via as idosas chegando, algumas pessoas vinham junto de toda a família, as crianças pequenas corriam e brincavam, deixando Paulo com inveja e saudades de quando podia fazer isso, era melhor do que fingir que leva toda aquela palhaçada a sério. Algumas músicas começavam a ser cantadas enquanto o padre se preparava pra sua entrada, o ritmo até que era legal, ele tinha que admitir. O que já tirava um pouco do sono remanescente.

Então tudo começava. Orações, leituras, mais músicas. Levantar, sentar, levantar de novo, sentar de novo, ajoelhar, levantar. Olhava para o relógio de hora em hora, mas só cinco minutos haviam passado e se sentia traído pelo tempo. Ia passando o dedo pelo panfleto que dão para acompanhar a missa (não importa qual o nome disso, pensava ele) e cada etapa passada era um alento.





2 comentários:

Anônimo disse...

Márcio, você não vai terminar o texto? Eu estava gostando e... Abs. Lima.

José Marcio disse...

Lima, já postei a segunda parte. Gosto de colocar aos poucos pra não assustar.