segunda-feira, 23 de abril de 2012

Coluna Eu, Animal, Maninho Pacheco

Deus não se ocupa com os bois


Maninho Pacheco (*)

“Na Lei de Moisés está escrito:
Não atarás a boca ao boi que debulha.
Acaso Deus tem dó dos bois?”.
Coríntios 9:9


"o ato de nomeação se traduz como uma
forma de poder" Derrida
Em um de seus seminários, realizado no verão de 1997, o filósofo franco-argelino Jacques Derrida tratou brilhante e poeticamente do limiar que há entre o humano e o animal. Dessas palestras resultaram o livro “O animal que logo sou”. Fazendo distinção entre ‘coisas’ e ‘seres viventes’, Derrida navega de Aristóteles a Lacan, passando por Descartes, Kant, Heidegger e Levinas e o conceito desses filósofos sobre a existência dos animais.

A leitura atenta de “O animal que logo sou” enseja a produção de inúmeros artigos que tratam da questão animal sobre uma perspectiva menos factual e mais filosófica. Mas é na observação derridiana sobre o texto bíblico de Adão e Eva que o autor constroi uma espécie de parábola da dominação humana sobre os animais e, em certa medida, explica o perfil antropocêntrico da Bíblia (e, por extensão, do cristianismo) e seu especismo (preconceito humano em relação às demais espécies) intrínseco.

Derrida nos remonta que Deus entregou a Adão a responsabilidade de nomear os animais, todos eles. E dominá-los.

- “Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”. Gênesis 1:28.

O filósofo nos diz que o ato de nomeação se traduz como uma forma de poder, o poder de nomear, um poder que sujeita os animais pela palavra ou pelo nome, em nome de Deus. Segundo Derrida “Ele criou o homem à sua semelhança para que o homem sujeite, dome, domine, adestre, ou domestique os animais nascidos antes deles, e assente sua autoridade sobre eles.”

Ao condenar os maus-tratos aos animais, sobretudo no Antigo Testamento, a Bíblia não a faz sob enfoque moral dentro da perspectiva do sofrimento não-humano, mas preocupada com o efeito desse tipo de atitude sobre o caráter humano. O próprio Tomás de Aquino explica que “se algumas passagens nas Sagradas Escrituras parece proibir-nos de ser cruéis com os animais brutos isso ocorre ou por temor de que através da crueldade aos animais chegue-se a ser cruel com os seres humanos, ou porque a agressão a um animal acarreta dano temporal ao homem”.

A Bíblia em várias passagens falava de ajudar o asno de um inimigo quando prostrado sob sua carga (Êxodo, 23:5; Deuteronômio, 22:4); de permitir aos animais que descansem aos sábados (Êxodo, 23:12); de não amordaçar o boi que debulha o grão (Deuteronômio, 25:4); e ainda exorta “o homem justo a proteger a vida do animal” (Provérbios, 12:10).

Leia todo o artigo em Don Oleari Ponto Com


(*) Maninho Pacheco é jornalista, designer gráfico e publicitário.

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